por Amaral Lima
O embate entre fazendeiros e
sem-terras em torno do acampamento Frei Henri é apenas um exemplo do embate
entre classes na Amazônia paraense. Já começa pelo nome do acampamento e do
município onde se encontra o conflito.
Frei Henri é um missionário
francês que vive a alguns quilômetros dali, em Xinguara. Quase aos 90 anos e
jurado de morte por fazendeiros, ainda advoga em favor de militantes
assassinados no sul do Pará, em consequência da disputa territorial.
O nome da cidade,
Curionópolis, se refere ao major Curió, um dos responsáveis pela aniquilação
dos membros da chamada Guerrilha do Araguaia na década de 1970, no período da
ditadura civil militar brasileira.
“Essa região está em
permanente disputa e é a região onde existem mais fazendeiros organizados e
preparados para ações criminosas a fi m de defender seus interesses, são
extremamente violentos e têm muita influência por dentro da política da
região”, denuncia José Batista, advogado da CPT de Marabá.
Darlam Lopes, o suposto
grileiro da área, é casado com Kenia Lopes, filha de outro fazendeiro conhecido
na região, conhecido como Dão Baiano. Ambos seriam os comandantes dos ataques
ao acampamento do MST. Entretanto, Gabriel Saldanha, Rafael, Elinho Baiano e
Donizete estariam envolvidos no esquema criminoso com apoio do Sindicato dos
Fazendeiros de Parauapebas e Região, o Siproduz.
Na morte dos militantes do
MST Fusquinha e Doutor, em 1998, em Parauapebas, 12 fazendeiros foram
indiciados e denunciados e teriam que responder a uma ação penal que há mais de
dez anos está engavetada na comarca de Parauapebas. Entre os indiciados, está
Donizete, chamado pelos amigos de “matador Donizete”, principal acusado dos
disparos contra os membros do MST em 1998, num despejo ilegal da fazenda Goiás
II.
Na ocasião, sem nenhum
amparo legal, os fazendeiros contrataram os policiais militares, que haviam
atuado no massacre de Eldorado dos Carajás em 1996, além de pagar ao juiz da
região para que fizesse um documento de reintegração de posse da área.
“Esse tipo de ação que os
fazendeiros estão fazendo hoje contra o acampamento Frei Henri de cercar o
local, alvejar contra as famílias, contratar pistoleiros, usar a influência da
polícia, impedir o ir e vir dos camponeses, é uma prática antiga, quando Doutor
e Fusquinha foram assassinados foi utilizada a mesma tática”, lembra Batista.
Se por si só os fazendeiros
resguardam um poderio sobre a região, a partir do Programa Grande Carajás de
mineração, implantado pelo governo brasileiro no inicio da década de 1980,
ganharam mais uma aliada: a então companhia Vale do Rio Doce.
Numa área de grande
incidência mineral, a região sul e sudeste do Pará, a Vale tem o controle em
praticamente todas as decisões do Incra. “A mineradora tem ingressado na
Justiça para conseguir autorização para fazer sua obra de duplicação da
ferrovia em todos os assentamentos que são cortados pelos trilhos, sem
autorização dos assentados, mas apenas do Incra”, acusa a socióloga paraense
Rosemeyre Bezerra.
Aproximadamente em 200
projetos de assentamento em tramitação no Incra de Marabá, a transnacional tem
intercedido e ponderado junto ao órgão por interesse nas áreas. Ademais,
segundo consta nos autos do processo do massacre de Carajás, a empresa seria a
principal financiadora da ação contra as famílias que à época estavam acampadas
na beira da estrada e em Eldorado dos Carajás, na curva do S, onde 21
trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados.
“A Vale com todo o seu
poderio de espionagem, político e econômico na região, não aceita que
movimentos sociais organizados fi quem próximos aos seus grandes projetos de
exploração mineral”, denuncia Raimundo Gomes Cruz do Centro de Educação,
Pesquisa, Assessoria Sindical e Popular (Cepasp), um dos espionados pela
empresa na região.
Fonte: Brasil de Fato
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