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Mostrando postagens de julho, 2012

Os poemas são pássaros...

Os poemas Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... Mario Quintana Há 106 anos nascia Mário Quintana!

E finjo que finjo que finjo que não sei...

A mais bonita (Chico Buarque) Não, solidão, hoje não quero me retocar Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas Deixo que as águas invadam meu rosto Gosto de me ver chorar Finjo que estão me vendo Eu preciso me mostrar Bonita Pra que os olhos do meu bem Não olhem mais ninguém Quando eu me revelar Da forma mais bonita Pra saber como levar todos Os desejos que ele tem Ao me ver passar Bonita Hoje eu arrasei Na casa de espelhos Espalho os meus rostos E finjo que finjo que finjo Que não sei

Ó fome abstracta das coisas...

A Passagem das Horas [a] Sentir tudo de todas as maneiras, Ter todas as opiniões, Ser sincero contradizendo-se a cada minuto, Desagradar a si-próprio pela plena liberalidade de espírito, E amar as coisas como Deus. Eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um operário, Eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na praia Que a dor real das crianças em quem batem (Ah, como isto deve ser falso, pobres crianças em quem batem — E porque é que as minhas sensações se revezam tão depressa?) Eu, enfim, que sou um diálogo contínuo Um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre, Quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque E faz pena saber que há vida que viver amanhã. Eu, enfim, literalmente eu, E eu metaforicamente também, Eu, o poeta sensacionista, enviado do Acaso Às leis irrepreensíveis da Vida, Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada, O indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim, Prefere pensar

Nuno Júdice

Lábios que encontram outros lábios num meio de caminho, como peregrinos interrompendo a devoção, nem pobres nem sábios numa embriaguez sem vinho que silêncio os entontece quando de súbito se tocam e, cegos ainda, procuram a saída que o olhar esquece num murmúrio de vagos segredos? É de tarde, na melancolia turva dos poentes, ouvindo um tocar de sinos escorrer sob o azul dos céus quentes, que essa imagem desce de agosto, ou setembro, e se enrola sem desgosto no chão obscuro desse amor que lembro. Nuno Júdice