A Passagem das Horas [a] Sentir tudo de todas as maneiras, Ter todas as opiniões, Ser sincero contradizendo-se a cada minuto, Desagradar a si-próprio pela plena liberalidade de espírito, E amar as coisas como Deus. Eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um operário, Eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na praia Que a dor real das crianças em quem batem (Ah, como isto deve ser falso, pobres crianças em quem batem — E porque é que as minhas sensações se revezam tão depressa?) Eu, enfim, que sou um diálogo contínuo Um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre, Quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque E faz pena saber que há vida que viver amanhã. Eu, enfim, literalmente eu, E eu metaforicamente também, Eu, o poeta sensacionista, enviado do Acaso Às leis irrepreensíveis da Vida, Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada, O indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim, Prefere pensar ...