"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente"
Moacir Scliar
Esses últimos tempos não tem sido fáceis. Apenas agora sento para redigir essas pequenas palavras sobre esta triste onda que se abateu sobre mim ontem. Escrevo-as ao som de Bach... Moacir Jaime Scliar partiu na madrugada de ontem...
Eu tinha 14 anos quando pela primeira vez li um conto de Scliar. Naquela época, auge da minha devoração de obras, eu lia livros e mais livros e se não me lembrassem que eu devia comer eu não comia e um detalhe importante: eu só ouvia música erudita e de preferência Sebastian Bach. Bons tempos aquele...
Gostei dos contos de Scliar e de sua obra desde o começo. E isso é preciso anotar aqui, porque ele assim como outros escritores, fez partes de minhas tardes, em que debaixo das árvores aqui de casa só havia eu e um livro.
Hoje foi um dia de peito comprimido e de olhar marejado. A morte de ontem me afetou de uma maneira estranha. Parece que mil fragmentos de mim se soltaram no infinito e deixaram nevoentas as tardes do passado...
Há muito tempo uma menina lia um livro e o livro sorria para a menina e eram dois companheiros nas tardes em que alguns, absurdamente, chamavam vazia...
Obrigada Moacyr Scliar e, com pesar, adeus...
Porto Alegre, 23.03.1937
Porto Alegre, 27.02.2011
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