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Notícias


Entre mim e os mortos há o mar
e os telegramas.
Há anos que nenhum navio parte 
nem chega. Mas sempre os telegramas
frios, duros, e sem conforto.

Na praia, e sem poder sair.
Volto, os telegramas vêm comigo.
Não se calam, a casa é pequena
para um homem e tantas notícias.

Vejo-te no escuro, cidade enigmática.
Chamas com urgência, estou paralisado.
De ti para mim, apelos,
de mim para ti, silêncio.
Mas no escuro nos visitamos.

Escuto vocês todos, irmãos sombrios.
No pão, no couro, na superfície
macia das coisas sem raiva,
sinto vozes amigas, recados
furtivos, mensagens em código.

Os telegramas vieram no vento.
Quanto sertão, quanta renúncia atravessaram!
Todo homem sozinho devia fazer uma canoa
e remar para onde os telegramas estão chamando.




Carlos Drummond de Andrade

Comentários

  1. Guria! Muito bom teu blogue (exceto as citações de los hermanos, mas, enfim, anos 00...). Massa saber que o Direito da UFOPA tem um núcleo de assessoria jurídica popular (conheces o http://assessoriajuridicapopular.blogspot.com ?). Mas é isso... nosso desafio é sair do pequeno grupo para o grande, para as maiorias silenciosas que um dia saberão, também, gritar.

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  2. Muito obrigada Fagner Garcia Vicente e conheço sim o Blog Assessoria Jurídica Popular.

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