São dez tristes, chuvosas horas (...) Estou escrevendo devagar e com torpor (...) sinto a necessidade de dizer por escrito adeus ao homem que me mostrou, com impecável perícia, como se deve viajar em direção ao fantástico, para poder ter as realidades e evidências por enigmas; como poder transmudar em loucas as razões, para poder sobreviver socialmente a tantos monstros que, nobre, militar e sensatamente nos governam. (...) Daqui em diante, unicamente de nós dependerá que seu modo de iluminar tudo o que olhava, descobrinco o que nós não víamos, ou víamos cheio de lugares-comuns, não se perca como um lugar literário (...) Hoje todos os cronópios estão chorando. Morreu um de seus grandes.
(Luis Alberto Warat)
Minha sensível razão não sabe expressar esse vazio que fica com a partida de Warat. Neste instante penso em Warat e choro sem lágrimas a ausência daquele que logrou oxigenar o mundo jurídico. Aquele de alma desnudada para o qual a democracia não deveria ser uma palavra, mas uma vivência e que com suas letras me ensinou que a racionalidade também deve ser provida de afeto.
Encontrei a obra de Warat no início do curso e logo se tornou um dos meus prediletos. A maneira iluminada e musical de abordar o direito, de nos incentivar a ir além das aparências jurídicas. Warat afirmava que era necessário ir de encontro à maré daquilo que nos é estereotipadamente autorizado. Era necessário desnudar-se, expor-se ao mundo.
Apontou verdades fingidas, afetos negligenciados, as desordens insuportáveis, as urgências cotidianas. Foi mago, vendedor de sonhos, saltimbanco, ilusionista e executor da função pedagógica da loucura. Lutou arduamente contra o senso comum dos juristas e suscitou sempre a necessidade de um saber crítico
Hoje Warat "é uma das minhas mortes moleculares". O cronópio-mor morreu e a partir de agora será apenas Luis Alberto Warat nas suas obras, nos outros. Não escondo a tristeza dessas horas e a minha incapacidade de escrever algo que realmente reflita Warat. Se é que isso é possível.
Por enquanto só encontro silêncio. A morte dessa quinta-feira me arranhou e ainda lateja. Hoje tenho os olhos um tanto perdidos...
Obrigado Luis Alberto Warat e com tristeza, Adeus!
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